segunda-feira, 22 de julho de 2013

Casamento circense!!!

Casamento circense


            A mais de 30 anos atrás, a cidade de Pimenta não tinha quase nenhum divertimento noturno. Quando chegava um circo na cidade era um verdadeiro evento! Demamando à caducando, pobres a ricos, todos iam assistir aos espetáculos. E o circo, os artistas, as falas eram comentadas e repetidas por toda a cidade. Como sempre, os circenses descobriam quem era o bêbado, o mais rico, a mais bela da cidade e criavam falas e brincadeiras com nome destas pessoas. 
       Alguns dos habitantes da cidade arrumavam emprego no circo, ajudando a montá-lo e desmontá-lo, entre outros afazeres. Os mais chegados trabalhavam na portaria ou vendendo guloseimas e, ainda, assistiam de graça aos espetáculos. As crianças, principalmente as menos abastadas, ficavam na porta do circo o tempo todo e sonhavam com os espetáculos e com os artistas. Ao menor descuido dos circenses, estas crianças, e até mesmo alguns “marmanjos”, passavam por baixo do pano do circo.
       Este causo começa com um circo que veio parar na cidade de Pimenta e que por aqui ficou por mais de um mês. O Malote, um colega meu, conheceu uma linda garota no circo e ficou de marcação cerrada para conquista-la: ia a todos os espetáculos e sentava sempre na fila da frente. Tanto freqüentava o circo, que arrumou serviço por uns dias. Mas, o que realmente importava era ver a sua futura namorada todos os dias. 
       Conversa vai, conversa vem e a moça começou a ceder aos paparicos do Malote. O pessoal do circo não concordava muito com o namoro e muito menos a família do apaixonado rapaz. Contudo, todos acreditavam que quando o circo fosse embora o romance chegaria ao fim. No dia do circo partir em retirada”, o namoro já estava adiantado, só que o pai do Malote, um ex-delegado muito bravo, estava louco para o circo ir-se logojá que não concordava com o namoro. 
       Não é que o Malote conseguiu convencer o dono do circo, pai da moça, a contratá-lo definitivamente? O Malote deve ter tomado o chá da meia noite, ficando enfeitiçado, e o pai da moça doido para dispor de uma colher. Se bem que até o dado momento, ele tinha é apanhado mais um garfo e,diga-se de passagem, “êta garfinho bom este!” Depois dearrumar sua mala (um saco bem alvejado e o cadeado um nó bem apertado), escondido, pois o pai dele ia ficar uma onça, lá se foi Malotinho correr o mundo trabalhando no circo. A paixão e a voracidade por aventuras é que moviamseu coração e, nesses assuntos, a razão ficava sempre de fora.
       A vida para o Malote não foi muito fácil, pois o pai e osirmãos da moça o vigiavam 24 horas por dia e, ainda, o chamavam de feijão perdido!  No circo todo mundo preparou um bota fora para ele: todo tipo de serviço ruim e pegadinhas tinham o endereço certo. Só que o amor é coisa de louco e Malotinho aturou tudo!
       Como havia saído contra gosto da família, e todos repetiam que ele não ia durar uma minguante na nova carreira, ele ficou sem coragem de pedir arrego.  Agarrava firme no serviço para ver se conquistava a confiança da família, porém, acabava sempre cometendo algumas gafes. O pessoal do circo sempre armava alguma para cima dele e ele foi se tornando a chacota do pessoal..
       Depois de passado algum tempo, só restou ao Malote pedir a mão da moça, porque de outra forma ia acabar ficando só na vontade mesmo! Como palhaço estava em falta, para alegria da filha, mas a contra gosto da sograo pessoal do circo acabou adotando mais um. O Malote arrumou suas coisas e veio parar em Pimenta para contar as boas novas do futuro casamento. Pretendia pegar suacertidão de nascimento no cofre de seu pai, onde esta ficava guardada e voltar correndo para o circo. 
       Seu pai quando ficou sabendo do casamento virou um leão e disse que moça de circo não entrava em sua casa de jeito algum! Como só ele tinha a chave do cofre, ficou impossível para Malote pegar a certidão. O Malote, triste e sem dinheiro para voltar ao circoficou desolado em um canto pensando na belezinha que havia ficado no circo. Passou a noite em claro matutando: a hipótese de desistir do seu amor estava descartada!
       No dia seguinte, fazendo cara de conformado, conversou com seu pai e disse que ele tinha razão, mas queprecisava voltar ao circo e desmanchar o casamento, afinal,simplesmente sumir não era papel de homem filho de um ex-delegado fazer. Disse a seu pai que não gostava mais da moça que ia se casar por ter ficado namorando-a muito tempoalém de ter morado no circo onde foi empregado. O pai ofereceu para ir junto, mas Malote o dispensou. Como a tal certidão estava trancada no cofre, o delegado concordou e até lhe deu uma boa grana para ficar livre daquele casamento. Dinheiro que o Malote nunca tinha posto a mão!Malote se despediu da família toda e disse que ia ser rápido: terminaria o namoro, pegaria o resto de suas tralhasque estavam no circo e voltaria logo, logo.
       Malotinho saiu de casa e foi direto para o cartório,pegou uma segunda via de sua certidão de nascimento e vazou para o circo: feliz e com dinheiro no bolso! O pai dele quase deu um infarto quando soube o que o filho havia feito. O delegado acabara caindo no conto do vigário!
       O Malote chegou ao circo com dinheiro e não feznenhum comentário sobre o que havia acontecido. Com a data do casamento chegando, o dono do circo disse que antes do casamento oficial, Malote e a moça teriam quepassar pelo casamento no circo durante um de seusespetáculos. Só faltava essa! Malote morria de vergonha e nunca participava dos espetáculos... Quase desistiu do casório, mas os amaços calientes e os beijos não saiam da sua cabeça. Durante os ensaios a coisa já ficou feia:tiveram que cortar sua fala pela metade e, mesmo assim, a encenação de Malotinho não ficou lá muito boa. Ia ter de montar e desmontar muito circo, porque de artista ele não tinha nada.
       Quando subiu no palco, com as pernas trêmulas e preocupado com suas falas que não havia decorado direito, deu de cara com um conterrâneo sentado bem na fila da frente. Tentou disfarçar para ver se não era reconhecido, mas o telespectador o reconheceu. Gritava seu apelido na maior altura e ria sem pararMalote tentava fazer sinais para calar o cara, mas de nada adiantou.  Nunca tinha visto um casamento durar tanto tempo! Parecia não ter fim! Foi um batismo de fogo essa sua primeira vez no palco...
       No outro dia, quando Malote levantou, foi aquela gozação... de todos os lados só falavam do novo artista circense vindo direto da Cidade de Pimenta! O pior já havia passado pensava ele e, assim, esperava pelo dia do casamento. Pela primeira vez na vida colocou um terno,emprestado é claro!, e o dono do terno, além de menor e bem mais gordo. Ficou igual ao Mazaropi: calça de pegar frango, sapatinho surrado e apertando o calo e o paletó do tamanho da lona do circo!
       No caminho para igreja, Malotinho recebeu uma notíciaele teria de se confessar antes do casamento. Ele bem que tentou escapar dessa confissão de toda maneira, mas o padre não arredou pé. A moça foi na frente, ajoelhou-se e, em poucos minutos, já estava absolvida de todos os pecados. O Malote, meio desconfiado, ajoelhou na sacristia,olhou para o padre e para o pessoal na porta da igreja e nada de lembrar-se dos pecados. Por fim falou: nunca desonrei, nunca matei e nem roubei, já o resto eu fiz de tudo um pouco padre. O padre teve que se conter para não rir e lascou uma penitência bem grande no pecador. O que importava mesmo era o quanto Malote estava se sentindo importante, mais animado do que cachorro no bico da canoa!
        Até que enfim chegou o dia tão esperado e o casamento na igreja aconteceu sem muitos percalços. Dafamília de Malote, só veio uma irmã escondida do pai, que também foi sua madrinha de casamento junto a um colegadele
       Quando chegaram ao circo, pegaram a gravata do Malote (a única peça do seu vestuário que era sua!) ecomeçaram vender os pedacinhos. Toda hora ele dava uma conferida para ver se o dinheiro arrecadado dava ao menos para pagar a gravata, mas o pessoal, maldosoia escondendo o dinheiro e só deixava as moedinhas... Quando lhe entregaram a grana toda, ele quase caiu de costa! Nunca tivera tanta bufunfa na mão! Realmente foi o melhor negócio da sua vida! A festinha no circo parecia não ter fim,para ele que estava louco para ficar a sós com a noiva. Aansiedade era tanta que ele se esqueceu até de comer. Lápelas tantas, o dono do circo, agora sogro, chamou o casal e disse que ia levá-los a um hotel que tinha na cidade, no qual já havia feito a reserva para a primeira e única noite de lua-de-mel do casal.
       Depois da ladainha que a sogra discursou para o noivo,o casal e o sogro entraram no carro e foram para o tal hotel, presente de casamento do sogrão. Todos estavam muito felizes. Chegando ao hotel o sogro se despediu e foi embora
       Os pombinhos pegaram a chave com o recepcionista e,enquanto subiam para o quartoMalote perguntou se não tinha algo para comer. O recepcionista disse que àquela hora já não faziam mais nada, mas que ia olhar na geladeira o que tinha. Como o Malote havia se esquecido de comer, disse que era só pra ele, que qualquer coisa servia. Daí a pouco veio o recepcionista com um purê de batata já requentadoMalote mandou o beiço sem dó nem piedade. Enquanto isso, a noiva subiu para tomar um banho e se arrumar. Depois da saída da moça, o recepcionista já tirou uma casquinha, dizendo pra ele comer bastante que ia precisar de muita energia. 
       Daí a pouco o Malote subiu e entrou de mansinho no quarto. Quando viu a noiva só de babydol na cama quase partiu para ataque sem nem tomar um banho! Mas se conteve, pois, queria ficar bem cheiroso e impressionar bastante a moça. Correu para o banheiro, sapecou um banho de qualquer jeito e tacou o perfume para dar o retoque final.  Entrou no quarto com aquele ar de galã de cinema mudo, todo derretendo de amor. Começou os preliminares sem muita pressa, pois queria curtir cada momento... Quando a coisa começou a esquentar, a mão naquilo, aquilo na mão, a sua barriga começou a doer e aroncar igual à uma cuíca. Não teve outro jeito: correu para o banheiro edesesperado, arrancou a cueca e mandou o barro! Só aí foi perceber ter sentado ao bidê. Pra dar uma limpeza mais ou menos foi o maior custo; para acabar com aquele cheiro teve que tomar outro banho. Mas isso não ia estragar de jeito nenhum sua noite de nupciasE, de mansinho, voltou para o quarto...
       A noiva já estava meio sonolenta devido à demora epor já ser tarde, mas logo se ascendeu de novo. Depois de alguns minutos era só roupa que voava pelo quarto e coração pra todo lado. Quando entrou na grande área e estava preste a marcar o primeiro gol, a danada da barriga começou a doer de novo. Mas Malote estava determinado e, dando uma trancada no bicho, continuou a peleja. Só que a coisa foi apertando e o danado do bilau amoleceu! Não teve outra saída a não ser correr para o banheiro! Pelo menos jáestava pelado e dessa vez não ia errar o vaso. Retorce daqui, dói dali e nada de dar uma folga o danado do purê!Ficou nessa labuta por um bom tempo e com uma vergonha danada do que a noiva ia pensar: que ele não era chegando à fruta ou era boiola. 
       Voltou meio desconfiado, pois não dava para confiar na barriga. A noiva tinha pegado no sono, pois já era muito tarde. Ficou sem coragem de acordar a noiva, era muita areia para um caminhão vazando óleo pra todo lado! Deitou bem devagarzinho para não acordar a noiva. Não chegou a contar mais de um carneirinho e já tinha pegado no sono...
       Infelizmente teve de ir ao banheiro mais algumas vezes no decorrer da noite. Quando o sol saiu, ainda bem cedo, Malotinho se lembrou de que o circo ia levantar pano e de que precisava ir embora. Ele chamou a noiva meio desconfiado. Ela acordou e não tocou no assunto da noite anterior. Juntaram as coisas e desceram para a portaria. O recepcionista estava apagado em uma cadeira num canto e levou o maior susto quando Malote o acordou. 
       A noiva caminhou para saída do hotel e ele ficou para trás para pagar o maldito purê. Entregou uma nota e ficou esperando o recepcionista trazer o troco. No regresso, o recepcionista com um cara de riso, não pôde deixar de tirar uma sardinha. Comentou baixo para a moça não ouvir: ê negão, tá com os olhos fundos! Foi só amor à noite toda,heim?”Ele perdeu a paciência com o recepcionista e disse:foi mesmo”! Fiz amor no banheiro com o vaso, com o bidê! Foi só purê voando a noite toda!”. E saiu pisando duro. O recepcionista ficou sem entender bulhufas do que tinha acontecido. 
       A noiva lhe acalmou e perguntou o que tinha acontecido, ele falou que tinha reclamado da pratada de Viagra que aquele filho da mãe tinha vendido para ele. Então ela comentou com ele: “já pensou se o pessoal do circo ficar sabendo?”. Malotinho, mais que depressa respondeu: se você comentar alguma coisa com alguém,eu vou ser o primeiro viúvo de mulher virgem do mundo!”
       E viveram quase felizes para sempre. Purê? Nunca mais!


Kennedy Pimenta

Colcha de tear




Colcha de tear

       Ganhei de presente duas colchas de tear, uma feita pela minha avó Francisca Júlia da Silveira (vó Chiquinha) e outra pela minha bisavó Melvira Querubina da Silva. Uma destas colchas é de 1940 e foi minha madrinha Zélia filha da vó Chiquinha quem me deu, a outra, de 1960, foi minha bisavó Melvira quem me presenteou no meu nascimento. Minha alegria é tamanha em poder tocar e cobrir com algo feito pelas mãos de mulheres tão importantes em minha vida. Então, comecei a investigar com minha madrinha e meus pais como eram feitas essas colchas.
       Hoje é tudo muito fácil, coloca-se o carneiro e o pé de algodão de um lado da máquina e do outro lado saem as colchas prontas em diversas cores, o bife de carneiro temperado, o couro curtido e a semente do algodão empacotada pronta para o plantio, quase como um passe de mágica.
       Antigamente plantavam as sementes, depois colhiam o algodão e retiravam os caroços (sementes). Depois, o algodão era limpo manualmente (cardado) com uma escova de aço retangular cheia de pontinhas (carda) e se transformava em grossas mechas de mais ou menos dois palmos. Os carneiros eram criados nas fazendas, tinham que ser lavados e colodos dentro do celeiro para secar para não se sujarem novamente. A lã era cortada deles (tosquiada) e passava pelo mesmo processo de limpeza do algodão. Aí então, essas mechas eram passadas na roda de fiar, produzindo um fio uniforme e torcido, o qual era enrolado na dobadeira e assim transformado em meadas.
      Preparavam tintas caseiras retiradas da flor da quaresminha, de alguns frutos e de plantas diversas. Essas meadas eram fervidas nesta água de tinta por horas e depois eram colocadas para secar. Quem presenciou esse processo lembra-se dos arco-íris que eram os varais durante a secagem das multicoloridas meadas. O engraçado disso era que as pessoas que tingiam as meadas cada dia estavam com as mãos de uma cor diferente, sem contar a quantidade de calos pelo processo repetitivo. Enrolavam os fios em novelos para depois começarem o processo de tecer a colcha no tear, que era feito basicamente de madeira. Hora por vez, esses novelos caíam das mãos e desenrolavam horas de serviços e ainda corriam o risco de sujar. Esse processo era todo artesanal e lento, além de ser muito trabalhoso manobrar o tear. As pessoas utilizavam muito os braços e as pernas, o que fazia com que muitas vezes tivessem as veias das pernas arrebentadas. As filhas e filhos de minha bisavó Melvira e de minha avó Chiquinha sabem muito bem como é trabalhoso todo esse processo, todos na casa ajudavam de alguma forma, inclusive as crianças.
       Com certeza essas colchas vão passar de mão em mão por muito tempo ainda, pois o material do qual elas foram tecidas é de ótima qualidade, não sendo descartáveis como as industrializadas.

        A mim coube a melhor parte desse processo, contar a história e cobrir com essas colchas sentindo que as mãos de minhas avós e tias estão a me abençoar em uma ótima noite de sono.

Kennedy Pimenta

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Laços de sangue


Laços de sangue

Lobos da mesma matilha
Diferente caminho e trilha.
Nos reencontros casuais
Sentimentos únicos e leais.

Verdadeiro amor incondicional
De quem respeita o desigual.
O óleo na água se mistura
Mesmo diferente criatura.

Não há príncipes ou sapos
Da grande família somos nacos.
Na memória somos imortais
Continuidade dos ancestrais.


Todos juntos e misturados
Traços dos antepassados.
Sentimento puro de nossa gente
Inunda a alma fraternalmente.

Nem tudo são flores
Há rixas e dissabores.
Nem tudo é perfeito
Mas se perdoa com jeito.

Com energia renovada
Sigamos nossa estrada.
Espalha-se a nobre Alcateia
Numa verdadeira odisseia.

Kennedy Pimenta

Governantes de minorias


Governantes de minorias

Cansado do seu escárnio
Vai a luta o revolucionário.
Revoltado com a desventura
De seu calvário e sepultura.

Enojados de circo e pão
Protesta a infeliz nação.
Esfacelada e sem saúde
Já lhe aguarda o ataúde.

Povo de mínima educação
Tornando fácil a adestração.
Frequentemente roubados
Pelos governantes ludibriados.

Assustados e sem segurança
Rendem-se a ignóbil governança.
Sem escrúpulos e tendenciosas
Se fartam as minorias danosas.

O desalento é quase geral
Não se vê saída real.
Por todo lado brota corrupção
Aos poucos destruindo a nação.

Kennedy Pimenta

Gigante adormecido


Gigante adormecido 

Despertar heroico retumbante
Acorda o adormecido gigante.
Ninguém foge à luta
Ainda que tardia, justa!

Sonoros gritos do Ipiranga
Impávido o povo sangra.
O sol nasce fulgidamente
Qual a luta de nossa gente.

Clamores de direito e igualdade
Salve, salve nossa liberdade.
Todos em um desejo intenso
Mudar este país imenso.

Em comunhão o brasileiro cresce
E a seu brado a pátria estremece.
Espelhados em justa nação.
Mãe gentil, morte à corrupção.

Que seja símbolo de mudança
A flâmula tremula em esperança.
Em berço não descansaremos
À própria sorte lutaremos.

Kennedy Pimenta

Sina de um favelado


Sina de um favelado

Moro pendurado na favela
Eu, uma renca de filhos e ela.
Barracão defronte a ruela
Pintado como aquarela.

Sentado em minha cela
Mato meu tempo à janela.
A vista é deveras bela
Realidade nem minha nem dela.

Vida boa seria aquela
Velejar num barco a vela.
Desfilar pela passarela.
Mas isso é apenas uma tela

No beco uma cadela
A um cachorro se atrela.
Numa mistura de costela
Enchendo de filhotes a magrela.

Na televisão rola a novela
Pipoca transborda a tigela.
A caçula aperta a Fivela
De uma bota velha amarela.

Sinto um aperto na goela
Jantar, pão com mortadela.
Escuto um bater de Cancela
Alguém dispara pela viela.

Kennedy Pimenta

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