terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal!!!

Natal

A esperança de renovação
Renasce em cada coração.
Espalha-se o espírito natalino
Transbordante de amor divino.

Lastimamos as perdas e os ausentes
Lares cheios de festa, alegria e presentes.
Estreitamos os elos familiares
Que de nossas vidas são os pilares.

É tempo de fé e perdão
Neste clima findamos mais um ano
Com harmonia, cumplicidade e união.

Impregnados pela festividade
Reiniciamos nova jarnada
Destino a felicidade.

Kennedy Pimenta.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A tia desaparecida

 A tia desaparecida


            Uma família foi à praia passar uns dias de férias e resolveram levar uma tia já bem idosa, como forma de presenteá-la pelos seus 90 anos. Foram dois carros bem cheios e uma carretinha rebocada por um deles, com mantimentos e bebidas. A viagem de ida transcorreu tudo as mil maravilhas, tiveram que parar algumas vezes a mais para a tia ir ao banheiro e tomar remédios.   

            Chegando ao destino, depois de tudo arrumado, todos foram à praia para verem a reação de sua querida tia. Como ela ainda não conhecia o mar ficou deslumbrada com o tamanho e beleza daquele mundéu de água salgada. A senhorinha ficou horas vendo aquela imensidão azul, que sumia de vista e as ondas intermináveis que chegavam à praia. No primeiro momento, preferiu ficar só observando do lado de fora à sombra de um guarda sol. Depois de muita resistência e com a ajuda dos sobrinhos resolveu molhar os pés um pouquinho. No dia seguinte já se aventurava entrar sozinha, mas sempre bem no rasinho com a água no máximo até as canelas.
            Foi se adaptando ao ambiente lentamente, no terceiro dia sentiu vontade de fazer xixi e entrou no mar até a água chegar quase à cintura. Em uma dessas entradas acabou desequilibrando e levando um caixote da onda, de repente a senhorinha sumiu a beira mar.
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                                                       Kennedy Pimenta 

sábado, 16 de novembro de 2013

Barganha entre Catireiros


                               Barganha entre Catireiros

               No arraial do Santo Hilário, havia dois fazendeiros vizinhos de porteira. Um deles tratado como Soizé e o outro de Tião Maneca. Gostavam de fazer uma catira (comprar, vender ou trocar) qualquer coisa que lhes dessem um lucrinho. Comenta-se que os dois sempre saiam levando vantagem em suas barganhas. Como diz meu pai, mais fino do que assobio de macaco (velhaco), e nunca metiam a mão em uma cumbuca. Quando os dois faziam uma catira entre si, dizem que ambos saiam ganhando que jamais perdiam. Neste caso, quem perdia era o governo, as testemunhas, o vizinho, o banco ou quem mais estivesse por perto..............................

Delírios da paixão

Delírios da paixão

Nunca havia sentido a magia
De sonhar acordado noite e dia.
Embriagar-se de eterna fantasia
Que ilumina a alma e contagia............

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Incontroláveis sentimentos

Incontroláveis sentimentos
 
 
Ainda que passageiros sejam os nossos amores
Que nasça, viva, perfume e murche como as flores.
Que sejam eternos enquanto perdurem por esta vida
Mesmo nos deixando desolados de angustia na partida.
 
Ainda assim vale a pena experimentar esta sensação
Que nos alimenta a alma e enfeitiça o coração.
Entram em nossas vidas fazendo o maior vendaval
Transforma dias simples em pleno carnaval.
 
Dói-me pensar que nada é eternamente certo
Às vezes Oasis em flor, outrora ressequido deserto.
Paixões irreprimíveis que assolam o nosso ser
Desilusões fatídicas que nos levam ao entristecer.
 
Sonhos verdadeiros desmoronam como castelos de areia
Sem acreditar na razão acabo sempre preso na mesma teia.
Não consigo fugir dos meus incontroláveis sentimentos
Apesar do risco de acabar em lamúrias e desalentos.
 
Faz parte desta existência, pelos amores impossíveis lutar
E a cada desilusão sofrida, esperança em um novo recomeçar.
Nada acontece sem o nosso desejo e permissivo consentimento
Viva intensa e corajosamente a imortalidade de cada momento.
 
Kennedy Pimenta

sábado, 26 de outubro de 2013

CRISTO SALVADOR

Cristo salvador

Cristo perdoe a terra,
Tudo o que fez pela paz,
O homem transformou em guerra.

O Senhor pregou,
Pregou o amor
Amor da salvação
Cristo salvador.

Cristo perdoe a gente,
Tudo o que disse de verdade,
O homem ludibriou, agora mente!

O senhor tirou,
Tirou a dor
A dor da morte
Cristo redentor.

Cristo perdoe a humanidade,
Tudo o que disse de simples,
O homem deturpou, por pura vaidade.

O senhor amou,
Amou com ardor
Ardor as ovelhas
Cristo meu pastor.

Cristo perdoe a terra,
Tudo o que fez de paz,

O homem transformou em guerra.

Kennedy Pimenta

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Apenas Rosas


Apenas rosas

Outrora pequenino botão
Corola entreaberta verde limão.
Caule comprido e viçoso
Sustenta a flor majestoso.

Uma rosa solitariamente
De um vermelho ardente.
Enfeita todo canteiro
Exalando o seu cheiro.

Sua beleza estonteante
Me transforma em seu amante.
Magneticamente envolvido,
Por seu encanto aturdido.

Entre as flores, ó majestade
És a mais pura vaidade.
Que eu gostaria de ter
Para sempre em meu viver.

Tu serás sempre minha rosa
Linda, irradiante e majestosa.
Eu serei o seu cravo e poeta
Recita-la é o que me resta.

Kennedy Pimenta

terça-feira, 24 de setembro de 2013

"Atração fatal"

Atração fatal

Para o seu algoz matador.
Caminhas diante do horror.
Entorpecido pela sua cruz
Destino que lhe faz jus.

Hipnotizado pela serpente
Perdido caminhas á frente.
Trôpego e atônito segue
Mesmo que o fim lhe vergue.

Não há mais como voltar
Tenebroso destino a galopar.
Trágico e certeiro fim
Cegamente se entrega sim.

A alma abandona o corpo
Jaz, desfalece quase morto.
Não há mais como fugir
Tudo a sua frente a ruir.

Atração perigosamente fatal
Que o leva ao ato final.
Dobra-se á guilhotina
Em fim tudo termina.

Kennedy Pimenta

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Delicias do interior!


Delicias do interior

Licor de araticum do cerrado
Com pinga da roça fabricado.
Aperitivo que aguça o paladar
Embriagante aroma paira no ar.

Fogão de lenha crepitando
Cheiro de carne de sol assando.

No borralho de brasa viva

Enchendo a boca de Saliva.

Comida no rabo do fogão
Panela de ferro, tutu de feijão.
Farofa de abóbora menina
Com couve picada bem fina.

Arroz com pequi e rapa moreninha
Coberto de cebola e Salsinha.
Pimenta amassada no prato
Desse banquete me farto.
 
Goiabada vermelhinha cascão
Servida com cremoso requeijão.
Tudo feito com simplicidade e amor
Eterna lembrança do interior.
 
Kennedy Pimenta

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Vovô Juca do Quinca

Vovô Juca do Quinca

 

Hoje recebi de minha querida tia Naná (Zilná) a missãode ser o guardião dos óculos do meu avô Juca do Quinca (José Alves Barbosa). Fiquei imensamente feliz e emocionado com esta dádiva, que acompanhou o meu querido avô por muitos anos. Em sua memória e em agradecimento à honra a mimconcedida, resolvi escrever um pouco sobre as recordações que me trouxeram este presente. Agora dia 23 de dezembro vai fazer 25 anos que ele deixou órfãos seus filhos, netos e bisnetos.

O vovô era filho do casal Joaquim Alves Barbosa e Francisca Julia Santos, bisavós que infelizmente não cheguei a conhecer. Meu avô Juca do Quinca tinha fama de Coronel, ou seja, era muito bravo, respeitado e enérgico com filhos e empregados. Vovô foi fazendeiro por alguns anos, e me contou que uma chuva de pedra acabou com sua plantação de milho. Ele e seu irmão, Joaquim, chegaram a ser prefeitos da cidade de Pimenta, onde moraram por grande parte de suas vidas.

Meu avô Juca também foi comerciante por vários anos na cidade de Pimenta. Papai era o seu caixeiro (funcionário, administrador e comprador da loja). Meu pai era para ser um dos melhores comerciantes da região! Porém, sua relação com o dono da loja o fez tomar antipatia de comércio. Mas não faz mal, meu pai se tornou um excelente dentista, relojoeiro, ourives, protético... assim como o seu pai é um homem de vários ofícios.

A lembrança mais viva que tenho do meu avô é dvê-lousando seus óculos de ouro de armação bem fina, chapéu de palha bem claro e sua famosa bengala. Posso me gabar de nunca ter levado uma bengalada dele; já os outros netoschegaram a levar algumas, só para assustar. Contam-me que eu fui o único neto que ele teve paciência de paparicar e levar com ele para vários passeios... Mas, ai de mim se o desobedecesse!

No quintal do vovô tinha um enorme abacateiro, de onde ele tirava os abacates para fazer sabão. Mexia as tachadas por horas a fio e depois colocava a massa em caixotes para cortá-la em barras. Muitas vezes fomos juntos cortar capim no mato para fazer vassouras para varrer o forno à lenha, que era enorme! Ou então, eu é que era um catatau na época...

Ele também sabia fazer colchões de capim e me explicava insistentemente que precisava ser feito de capim mumbeca! Era preciso colocar o capim para secar e depoisajeitá-los na horizontal, dentro da capa que ele costurava com uma agulha enorme. Esse aprendizado foi de enorme serventia para mim, imagine você quantos colchões eu não fiz? Só os fazia em meus sonhos, enquanto dormia neles!

Estou aqui me lembrando de um hábito muito esquisitoque o vovô Juca tinha... pelo menos eu assim achava naquela época... Depois de mais velho ele amarrava um pano na cabeça, igual a um lenço usado pelas quitandeiras, e dizia que era para espantar o frio e não pegar vento no ouvido e nacabeçaSó agora eu entendo de onde minhas tias tiraram que era preciso ficar esfriando na porta do banheiro por vários minutos depois do banho: Um risco muito grande de pegar constipação ou resfriado!

Na casa do vovô Juca tinha uma trepadeira que eu nunca vi em outro lugar. Ela dava um fruto que ele chamava de cará do ar”. Cozinhava aquilo e comia com melado, do jeito queele adorava. E se fizéssemos estripulias na horta, corríamos o risco de tomar uma carazada na moleira.

Vovô Juca sempre reclamava para mim que estava passando da hora de morrer. Dizia que tinha tanta gente nova morrendo e que Deus não se lembrava dele: “da outra vez que o mundo acabou em água Deus escolheu Noé para semente, será que desta vez Ele vai escolher o José?”.

São tantas as histórias do vovô... Um dia estávamos andando pela rua e um Sr. passou por nós e falou para o meu avó, se referindo a mim: “cuidado que esse menino tádormindo em pé, vai acabar caindoRecordo como se fosse hoje, do meu avô e tias contar este fato para todo mundo!

Lá na casa do vovô sempre tinham pessoas estranhas queo procuravam para que ele “rezasse nelas”. Com suas rezas ele curou vários males! Eu me lembro de algumas vezes esfregar alguma coisa na pele só para ela ficar bem irritada e eu ouvir areza de “corta cobreiro” do vovô. Ela era mais ou menos assim: Cobra ou cobrão, Sarda ou sardão, Sapo ou sapão. A tudo isso é que eu corto. Aqui te corto a cabeça, te corto no meio e o rabo. Santa Maria, Ave MariaSanta Maria, Ave Maria”. E depois rezava algumas orações como “Pai nosso e ave Maria. Eu fazia de tudo pra ver suas rezas! Até dores na barriga eu inventava; mas quando ele percebia que era mentira, rezava assim: “doa, doerá, não sendo em mimque importa-me lá! E, acabada a “reza”, dava uma boa risada!

Como eu era menino na época que vovô Juca era vivo, eu não entendia porque ele não rezava pra acabar com sua manqueira. Quando perguntava isso a ele, vovô Juca ria e me dizia que sua reza só valia para curar as outras pessoas. Eu pensava que isso era uma injustiça! Ele também não conseguia curar suas dores de cabeça com reza não e, para tentar se livrar da dor, ele esfregava as mãos do começo para as pontas dos dedos e depois massageava as têmporas. Um hábito que ele criou e eu nunca me esqueci... como esfregava as mãos! Epensando nisso me recordei de mais um detalhe, vovô Juca não tinha a ponta do dedo médio esquerdo, ele perdeu na batida de um monjolo enquanto era criança... chego a arrepiar com essa lembrança!

Ah! Acabei de me lembrar de um cofre que meu avôtinha. Esse cofre era um grande enigma pra mim... Imaginava tanta coisa que vovô podia ter guardado lá dentro! Mas nofinal das contas, eu descobri que não tinha quase nada nele... E com essa descoberta foi-se minha primeira oportunidade de ficar rico! Perdi as contas de quantas vezes tentei abrir o cofre escondido dele... O engraçado é que a senha que ele me contava nunca dava certo!

Como todo bom coronel, vovô Juca tinha uma garrucha muito antiga. Ele até deixava a gente brincar com ela um pouco, mas, logo, logo, ele “tornava” guardá-la dentro cofre.De acordo com meu avô, a garrucha era para matar o Broa e outras pessoas para quem ele emprestava dinheiro, mas nuncalhe pagava de volta.

Resumindo, o vovô Juca era benzedeiro, carpinteiro, marceneiro e carapina; ser um faz-tudo era a sua sina. Eleconstruía todos os seus móveis, utensílios e ferramentas. Vovô Juca era dono de uma privilegiada inteligênciacriatividade e fé, a qual contagiava as pessoasSeus talentos ele passou parameu pai, que tentou passar para mim também.

Meu avô, apesar de benzedeiro, estava longe de ser umsanto. Eu mesmo já ouvi várias reclamações dos membros de sua família, e creio que eles tenham seus motivosAlgumas vezes eu ficava chateado de vê-lo desfazer de minha avó Chiquinha (briga de velho ranzinza) e, ainda bem, que esta foi a pior coisa que eu o vi fazendo! Mas também, meu bisavô Quinca não era lá muito “manso” nada... De acordo com meu pai, teve uma vez que vovô Juca, ainda menino, caiu do cavalo e ficou no chão gemendo, esperando pelo socorro de seu pai. Meu bisavô apeou do cavalo e chegou perto dele disparando:Morre calado menino! Larga de gemura!”. Antigamenteera assim, homem tinha que ser durão, “brabo”, e aguentar calado as dores da vida.

Eu, meus irmãos e meus primos, sempre que chegávamosà casa do vovô Juca o encontrávamos nos esperando, com uma bacia cheia de cana caiana, cascada e picada para nos receber. Eu me lembro disso como se fosse hoje!

As pessoas que me perdoem, mas para mim vovô Jucaera um velho bonzinho, no máximo rabugento em determinadas situações. Foi ele quem deu ao meu pai a nossa primeira casa de morada. Vivia curando as pessoas com suas rezas, passeava comigo quando eu o pedia e tinha certasemelhança com o Papai Noel, pois sua casa era o palco anual dos encontros de toda a família no natal.  Tempo de muita alegria, comilanças e presentes, que ficou gravado nas mentes de todos os netos. Em outra oportunidade talvez conte com eram nossos natais, os quais, como diria vovô Juca, “que vira que torna, que torna que vira”, acontecia na cidade de Formiga. Estou sempre me lembrando dessa expressão que vovô usava para falar que as coisas acabavam acontecendosucessivamente do mesmo jeito...

 

Saudades enormes do vovô Juca!!!

Kennedy Pimenta

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Casamento circense!!!

Casamento circense


            A mais de 30 anos atrás, a cidade de Pimenta não tinha quase nenhum divertimento noturno. Quando chegava um circo na cidade era um verdadeiro evento! Demamando à caducando, pobres a ricos, todos iam assistir aos espetáculos. E o circo, os artistas, as falas eram comentadas e repetidas por toda a cidade. Como sempre, os circenses descobriam quem era o bêbado, o mais rico, a mais bela da cidade e criavam falas e brincadeiras com nome destas pessoas. 
       Alguns dos habitantes da cidade arrumavam emprego no circo, ajudando a montá-lo e desmontá-lo, entre outros afazeres. Os mais chegados trabalhavam na portaria ou vendendo guloseimas e, ainda, assistiam de graça aos espetáculos. As crianças, principalmente as menos abastadas, ficavam na porta do circo o tempo todo e sonhavam com os espetáculos e com os artistas. Ao menor descuido dos circenses, estas crianças, e até mesmo alguns “marmanjos”, passavam por baixo do pano do circo.
       Este causo começa com um circo que veio parar na cidade de Pimenta e que por aqui ficou por mais de um mês. O Malote, um colega meu, conheceu uma linda garota no circo e ficou de marcação cerrada para conquista-la: ia a todos os espetáculos e sentava sempre na fila da frente. Tanto freqüentava o circo, que arrumou serviço por uns dias. Mas, o que realmente importava era ver a sua futura namorada todos os dias. 
       Conversa vai, conversa vem e a moça começou a ceder aos paparicos do Malote. O pessoal do circo não concordava muito com o namoro e muito menos a família do apaixonado rapaz. Contudo, todos acreditavam que quando o circo fosse embora o romance chegaria ao fim. No dia do circo partir em retirada”, o namoro já estava adiantado, só que o pai do Malote, um ex-delegado muito bravo, estava louco para o circo ir-se logojá que não concordava com o namoro. 
       Não é que o Malote conseguiu convencer o dono do circo, pai da moça, a contratá-lo definitivamente? O Malote deve ter tomado o chá da meia noite, ficando enfeitiçado, e o pai da moça doido para dispor de uma colher. Se bem que até o dado momento, ele tinha é apanhado mais um garfo e,diga-se de passagem, “êta garfinho bom este!” Depois dearrumar sua mala (um saco bem alvejado e o cadeado um nó bem apertado), escondido, pois o pai dele ia ficar uma onça, lá se foi Malotinho correr o mundo trabalhando no circo. A paixão e a voracidade por aventuras é que moviamseu coração e, nesses assuntos, a razão ficava sempre de fora.
       A vida para o Malote não foi muito fácil, pois o pai e osirmãos da moça o vigiavam 24 horas por dia e, ainda, o chamavam de feijão perdido!  No circo todo mundo preparou um bota fora para ele: todo tipo de serviço ruim e pegadinhas tinham o endereço certo. Só que o amor é coisa de louco e Malotinho aturou tudo!
       Como havia saído contra gosto da família, e todos repetiam que ele não ia durar uma minguante na nova carreira, ele ficou sem coragem de pedir arrego.  Agarrava firme no serviço para ver se conquistava a confiança da família, porém, acabava sempre cometendo algumas gafes. O pessoal do circo sempre armava alguma para cima dele e ele foi se tornando a chacota do pessoal..
       Depois de passado algum tempo, só restou ao Malote pedir a mão da moça, porque de outra forma ia acabar ficando só na vontade mesmo! Como palhaço estava em falta, para alegria da filha, mas a contra gosto da sograo pessoal do circo acabou adotando mais um. O Malote arrumou suas coisas e veio parar em Pimenta para contar as boas novas do futuro casamento. Pretendia pegar suacertidão de nascimento no cofre de seu pai, onde esta ficava guardada e voltar correndo para o circo. 
       Seu pai quando ficou sabendo do casamento virou um leão e disse que moça de circo não entrava em sua casa de jeito algum! Como só ele tinha a chave do cofre, ficou impossível para Malote pegar a certidão. O Malote, triste e sem dinheiro para voltar ao circoficou desolado em um canto pensando na belezinha que havia ficado no circo. Passou a noite em claro matutando: a hipótese de desistir do seu amor estava descartada!
       No dia seguinte, fazendo cara de conformado, conversou com seu pai e disse que ele tinha razão, mas queprecisava voltar ao circo e desmanchar o casamento, afinal,simplesmente sumir não era papel de homem filho de um ex-delegado fazer. Disse a seu pai que não gostava mais da moça que ia se casar por ter ficado namorando-a muito tempoalém de ter morado no circo onde foi empregado. O pai ofereceu para ir junto, mas Malote o dispensou. Como a tal certidão estava trancada no cofre, o delegado concordou e até lhe deu uma boa grana para ficar livre daquele casamento. Dinheiro que o Malote nunca tinha posto a mão!Malote se despediu da família toda e disse que ia ser rápido: terminaria o namoro, pegaria o resto de suas tralhasque estavam no circo e voltaria logo, logo.
       Malotinho saiu de casa e foi direto para o cartório,pegou uma segunda via de sua certidão de nascimento e vazou para o circo: feliz e com dinheiro no bolso! O pai dele quase deu um infarto quando soube o que o filho havia feito. O delegado acabara caindo no conto do vigário!
       O Malote chegou ao circo com dinheiro e não feznenhum comentário sobre o que havia acontecido. Com a data do casamento chegando, o dono do circo disse que antes do casamento oficial, Malote e a moça teriam quepassar pelo casamento no circo durante um de seusespetáculos. Só faltava essa! Malote morria de vergonha e nunca participava dos espetáculos... Quase desistiu do casório, mas os amaços calientes e os beijos não saiam da sua cabeça. Durante os ensaios a coisa já ficou feia:tiveram que cortar sua fala pela metade e, mesmo assim, a encenação de Malotinho não ficou lá muito boa. Ia ter de montar e desmontar muito circo, porque de artista ele não tinha nada.
       Quando subiu no palco, com as pernas trêmulas e preocupado com suas falas que não havia decorado direito, deu de cara com um conterrâneo sentado bem na fila da frente. Tentou disfarçar para ver se não era reconhecido, mas o telespectador o reconheceu. Gritava seu apelido na maior altura e ria sem pararMalote tentava fazer sinais para calar o cara, mas de nada adiantou.  Nunca tinha visto um casamento durar tanto tempo! Parecia não ter fim! Foi um batismo de fogo essa sua primeira vez no palco...
       No outro dia, quando Malote levantou, foi aquela gozação... de todos os lados só falavam do novo artista circense vindo direto da Cidade de Pimenta! O pior já havia passado pensava ele e, assim, esperava pelo dia do casamento. Pela primeira vez na vida colocou um terno,emprestado é claro!, e o dono do terno, além de menor e bem mais gordo. Ficou igual ao Mazaropi: calça de pegar frango, sapatinho surrado e apertando o calo e o paletó do tamanho da lona do circo!
       No caminho para igreja, Malotinho recebeu uma notíciaele teria de se confessar antes do casamento. Ele bem que tentou escapar dessa confissão de toda maneira, mas o padre não arredou pé. A moça foi na frente, ajoelhou-se e, em poucos minutos, já estava absolvida de todos os pecados. O Malote, meio desconfiado, ajoelhou na sacristia,olhou para o padre e para o pessoal na porta da igreja e nada de lembrar-se dos pecados. Por fim falou: nunca desonrei, nunca matei e nem roubei, já o resto eu fiz de tudo um pouco padre. O padre teve que se conter para não rir e lascou uma penitência bem grande no pecador. O que importava mesmo era o quanto Malote estava se sentindo importante, mais animado do que cachorro no bico da canoa!
        Até que enfim chegou o dia tão esperado e o casamento na igreja aconteceu sem muitos percalços. Dafamília de Malote, só veio uma irmã escondida do pai, que também foi sua madrinha de casamento junto a um colegadele
       Quando chegaram ao circo, pegaram a gravata do Malote (a única peça do seu vestuário que era sua!) ecomeçaram vender os pedacinhos. Toda hora ele dava uma conferida para ver se o dinheiro arrecadado dava ao menos para pagar a gravata, mas o pessoal, maldosoia escondendo o dinheiro e só deixava as moedinhas... Quando lhe entregaram a grana toda, ele quase caiu de costa! Nunca tivera tanta bufunfa na mão! Realmente foi o melhor negócio da sua vida! A festinha no circo parecia não ter fim,para ele que estava louco para ficar a sós com a noiva. Aansiedade era tanta que ele se esqueceu até de comer. Lápelas tantas, o dono do circo, agora sogro, chamou o casal e disse que ia levá-los a um hotel que tinha na cidade, no qual já havia feito a reserva para a primeira e única noite de lua-de-mel do casal.
       Depois da ladainha que a sogra discursou para o noivo,o casal e o sogro entraram no carro e foram para o tal hotel, presente de casamento do sogrão. Todos estavam muito felizes. Chegando ao hotel o sogro se despediu e foi embora
       Os pombinhos pegaram a chave com o recepcionista e,enquanto subiam para o quartoMalote perguntou se não tinha algo para comer. O recepcionista disse que àquela hora já não faziam mais nada, mas que ia olhar na geladeira o que tinha. Como o Malote havia se esquecido de comer, disse que era só pra ele, que qualquer coisa servia. Daí a pouco veio o recepcionista com um purê de batata já requentadoMalote mandou o beiço sem dó nem piedade. Enquanto isso, a noiva subiu para tomar um banho e se arrumar. Depois da saída da moça, o recepcionista já tirou uma casquinha, dizendo pra ele comer bastante que ia precisar de muita energia. 
       Daí a pouco o Malote subiu e entrou de mansinho no quarto. Quando viu a noiva só de babydol na cama quase partiu para ataque sem nem tomar um banho! Mas se conteve, pois, queria ficar bem cheiroso e impressionar bastante a moça. Correu para o banheiro, sapecou um banho de qualquer jeito e tacou o perfume para dar o retoque final.  Entrou no quarto com aquele ar de galã de cinema mudo, todo derretendo de amor. Começou os preliminares sem muita pressa, pois queria curtir cada momento... Quando a coisa começou a esquentar, a mão naquilo, aquilo na mão, a sua barriga começou a doer e aroncar igual à uma cuíca. Não teve outro jeito: correu para o banheiro edesesperado, arrancou a cueca e mandou o barro! Só aí foi perceber ter sentado ao bidê. Pra dar uma limpeza mais ou menos foi o maior custo; para acabar com aquele cheiro teve que tomar outro banho. Mas isso não ia estragar de jeito nenhum sua noite de nupciasE, de mansinho, voltou para o quarto...
       A noiva já estava meio sonolenta devido à demora epor já ser tarde, mas logo se ascendeu de novo. Depois de alguns minutos era só roupa que voava pelo quarto e coração pra todo lado. Quando entrou na grande área e estava preste a marcar o primeiro gol, a danada da barriga começou a doer de novo. Mas Malote estava determinado e, dando uma trancada no bicho, continuou a peleja. Só que a coisa foi apertando e o danado do bilau amoleceu! Não teve outra saída a não ser correr para o banheiro! Pelo menos jáestava pelado e dessa vez não ia errar o vaso. Retorce daqui, dói dali e nada de dar uma folga o danado do purê!Ficou nessa labuta por um bom tempo e com uma vergonha danada do que a noiva ia pensar: que ele não era chegando à fruta ou era boiola. 
       Voltou meio desconfiado, pois não dava para confiar na barriga. A noiva tinha pegado no sono, pois já era muito tarde. Ficou sem coragem de acordar a noiva, era muita areia para um caminhão vazando óleo pra todo lado! Deitou bem devagarzinho para não acordar a noiva. Não chegou a contar mais de um carneirinho e já tinha pegado no sono...
       Infelizmente teve de ir ao banheiro mais algumas vezes no decorrer da noite. Quando o sol saiu, ainda bem cedo, Malotinho se lembrou de que o circo ia levantar pano e de que precisava ir embora. Ele chamou a noiva meio desconfiado. Ela acordou e não tocou no assunto da noite anterior. Juntaram as coisas e desceram para a portaria. O recepcionista estava apagado em uma cadeira num canto e levou o maior susto quando Malote o acordou. 
       A noiva caminhou para saída do hotel e ele ficou para trás para pagar o maldito purê. Entregou uma nota e ficou esperando o recepcionista trazer o troco. No regresso, o recepcionista com um cara de riso, não pôde deixar de tirar uma sardinha. Comentou baixo para a moça não ouvir: ê negão, tá com os olhos fundos! Foi só amor à noite toda,heim?”Ele perdeu a paciência com o recepcionista e disse:foi mesmo”! Fiz amor no banheiro com o vaso, com o bidê! Foi só purê voando a noite toda!”. E saiu pisando duro. O recepcionista ficou sem entender bulhufas do que tinha acontecido. 
       A noiva lhe acalmou e perguntou o que tinha acontecido, ele falou que tinha reclamado da pratada de Viagra que aquele filho da mãe tinha vendido para ele. Então ela comentou com ele: “já pensou se o pessoal do circo ficar sabendo?”. Malotinho, mais que depressa respondeu: se você comentar alguma coisa com alguém,eu vou ser o primeiro viúvo de mulher virgem do mundo!”
       E viveram quase felizes para sempre. Purê? Nunca mais!


Kennedy Pimenta